José Dirceu intensifica participação em eventos públicos e sai das sombras
Paulo de Tarso Lyra - Correio Braziliense
Publicação: 05/12/2011 07:30 Atualização: 05/12/2011 07:46

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)


A ausência de Luiz Inácio Lula da Silva como a grande referência do PT em debates públicos — forçado ao resguardo pelo tratamento contra um câncer de laringe — levou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a intensificar sua produção de análises políticas. O aumento da evidência de Dirceu ocorreu tanto no blog pessoal, que mantém desde maio de 2007, quanto em eventos públicos nos quais é convidado como palestrante.

Nos últimos 15 dias, Dirceu criticou as declarações dadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre as ONGs que desviam recursos públicos, atacou o PSB, pedindo ao PT “que tome cuidado com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos” e afirmou, em um encontro do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que “PSDB e DEM estão em vias de extinção”.

No encontro organizado pelo PT para discutir a regulamentação da mídia, o ex-chefe da Casa Civil dissociou a proposta à censura da mídia. “O PT sempre defendeu a regulação da mídia como sempre defendeu a liberdade de imprensa”, disse Dirceu, durante o seminário promovido na capital paulista pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores. “Estamos propondo o que há no mundo inteiro, uma regulamentação dos meios de comunicação”, completou.

Sem a presença constante de Lula como interlocutor político do partido, o PT precisa se reinventar. A legenda, acostumada a amparar-se nas opiniões do ex-presidente, busca novo porta-voz. Petistas consultados apontam um fortalecimento de um colegiado interno. Mas Dirceu antecipa-se e exerce, até o momento, plenamente tal papel.

Só que o estilo adotado pelo cardeal petista é uma estratégia individual que tem incomodado a cúpula partidária. As palavras de Dirceu são vistas com profundas desconfianças. Principalmente no momento em que o partido busca fortalecer alianças para as eleições municipais, e a presidente Dilma Rousseff tenta reconstruir minimamente as pontes de diálogo com a oposição — aproximando-se especialmente do ex-presidente Fernando Henrique. Os petistas sabem que, pelo grau de prestígio do ex-ministro na legenda e pelo fascínio que ele exerce na militância, qualquer discurso de Dirceu pode tornar-se incendiário.

Busca de inimigosO PT monitora de perto, por exemplo, os passos do PSB e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Lula e a direção partidária sabem que Campos quer ganhar musculatura para transformar-se em opção para 2014, inclusive em uma aliança com o PSDB de Aécio Neves. Por isso, a orientação é para se ter cautela na relação, acompanhada de maneira cirúrgica por Lula. Mas Dirceu resolveu escancarar o cenário: “Temos que ficar de olho nos movimentos do PSB. Mais dia, menos dia, eles vão buscar um projeto próprio”, reforçou.

Durante a abertura do VII Congresso de Metalúrgicos do ABC, Dirceu atacou a oposição. “O DEM está praticamente em estado terminal e o PSDB está profundamente dividido. A oposição não tem eco na sociedade”, declarou ele. Dirceu ainda rebateu o ex-presidente Fernando Henrique, que elogiou a presidente Dilma Rousseff afirmando que ela estava desmontando um esquema de corrupção montado durante o governo Lula. “A corrupção na administração pública, no Estado, no governo não significa corrupção do governo, da presidente ou do partido. Isso é preciso provar e comprovar”, frisou.

Os ataques ao ex-presidente Fernando Henrique incomodam o Planalto. Dilma tem estreitado os laços com os tucanos e com Fernando Henrique. Convidou-o para o almoço oferecido ao presidente norte-americano Barack Obama — com outros ex-presidentes da República —, e enviou-lhe um telegrama no aniversário de 80 anos parabenizando-o pelo papel exercido na consolidação democrática e econômica do Brasil. Além disso, ele participou de um jantar no Palácio da Alvorada com os Elders, grupo criado pelo ex-presidente Nelson Mandela para discutir direitos humanos e combate à pobreza e fome no mundo.

Ímpeto verbalPara tentar minimizar as palavras recentes de Dirceu, a estratégia adotada pela cúpula petista é afirmar que não existe nenhuma orientação partidária para que o ex-chefe da Casa Civil aumente suas intervenções públicas. E que as palavras recentes do ex-ministro são de pura responsabilidade dele próprio. “Ele não está falando em substituição à direção do partido e, portanto, não existe qualquer mal-estar em relação às declarações feitas por ele”, disse o presidente nacional do PT, Rui Falcão. “Ele é um membro do diretório nacional e nunca deixou de fazer política, nem no PT, nem na sociedade”, completou o presidente petista.

Um ex-presidente da legenda conta, sob a condição de anonimato, sobre a dificuldade que é conter o ímpeto verbal de Dirceu. “Ele já foi ao Ceará uma vez e desancou a família Gomes. Eu tive que viajar pessoalmente a Fortaleza para acalmar o governador Cid Gomes e dizer que a aliança com o PSB no estado era prioritária e estava mantida em nossos planos”, recordou o petista.

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