Como o governador Agnelo Queiroz, o
seu ex-vice Tadeu Filipelli começou na vida pública pela Câmara
Legislativa. Agnelo tem formação médica e Filipelli em engenharia. Um
integra o PT, o outro o PMDB. Um ano depois de assumirem os gabinetes
mais importantes no Palácio do Buriti, ambos estão em sintonia política
e administrativa em tempo integral, com Filipelli manifestando a sua
satisfação em estar na condição de vice-governador e afirma ter muita
alegria em ser tratado com respeito, não vendo dessa forma qualquer
motivo para desconforto.
Apostando no otimismo
Da redação em 13/01/2012 18:36:09
Na terça-feira passada, assumindo o cargo de governador durante as
férias de Agnelo Queiroz, Filipelli demonstrou que entre os dois
prevalece o empenho em trabalhar em afinidade pelo Distrito Federal, ao
contrário da litigância esperada pelos adversários. Naquela
oportunidade, o peemedebista, demonstrando que estão afinados, afirmou:
“Tenho certeza que essas palavras trazem desespero a certo grupo de
pessoas que apostavam que a gente não conseguiria fazer essa
coligação”. Tadeu Filipelli ressaltou e reafirmou claramente a
admiração que tem pelo governador. Durante a entrevista, o
vice-governador lembrou como o novo governo encontrou o Palácio do
Buriti: “Não existia uma obra em execução. As farmácias dos hospitais
estavam simplesmente desabastecidas, chegando ao ponto de se registrar o
maior número de ações na Justiça contra o governo para assegurar o
atendimento médico, acrescentando mais de 70 registros no Cadin, com o
governo inadimplente, que passou a ser limpo e pôde voltar a operar.
Ele revelou, no decorrer da entrevista, que tem muito entusiasmo com
esse momento propício vivido pelo país. Cada vez mais otimista com o
Brasil e Brasília.
- Como é ser vice de Agnelo Queiroz?
- Ser vice de Agnelo Queiroz é um grande desafio. Primeiro, eu acho que
a gente tem que ter a consciência de estar na condição de vice. Não
cabe qualquer disputa de espaço, você estando no papel de vice. Se você
perceber bem, essa com certeza é uma das primeiras entrevistas que a
população de Brasília irá ler durante o primeiro ano de governo. Eu
nunca disputei espaço na imprensa, em solenidades; tenho consciência da
minha condição de vice e tenho também muita alegria em ser tratado com
respeito nessa condição. Por ser respeitado nessa condição, não há
motivo para qualquer tipo de desconforto. Tenho certeza que essas
palavras trazem desespero a certo grupo de pessoas que apostavam que a
gente não conseguiria fazer essa coligação.
- A coligação foi decisiva?
- Conseguida a coligação, tinham certeza de que nós não conseguiríamos o
período eleitoral com trabalho das equipes nas ruas; conseguimos. Que
nós perderíamos a eleição; ganhamos a eleição. Também que nós não
conseguiríamos, nessa composição, formar o governo; formamos o governo. E
que nós romperíamos ao longo do tempo, pela própria briga pelo espaço
político, pelo espaço no governo. Estou dando uma demonstração clara e
reafirmando a admiração que tenho pelo governador Agnelo.
- Quando existem crises sociais, administrativas, políticas, como os dois reagem?
- Olha, nós temos, sobretudo, um acordo, um compromisso entre nós - de
clareza nas interlocuções. Sem isso, poderia provocar ou deixar uma
intriga prosperar; esse seria um grande problema. Mas nós temos essa
clareza do compromisso. Portanto, é muito comum, de vez em quando, a
gente ter um minuto para recolhimento, uma conversa um pouco mais clara,
um pouco mais precisa, porque da mesma forma que, às vezes, eu tenho
uma angústia, ele também deve ter uma angústia em relação a nossa
parceria. O melhor de tudo é sempre buscar, de momentos em momentos,
afinar o diálogo. Acho que isso é muito saudável.
- Vocês conversam assim todo dia?
- Não o tanto que eu desejaria, e tenho certeza, também, que não é o
tanto que ele desejaria. Mas é dentro da possibilidade, dentro daquilo
que nos é permitido, tanto em relação à parte dele comigo, quanto da
minha parte em relação a ele. Tenho certeza que os dois gostariam que as
conversas fossem um pouco mais constantes.
- O governo chegou ao primeiro ano enfrentado dificuldades em 2011. Qual é a sua avaliação?
- No meu entendimento cada momento teve um grau próprio de dificuldade.
No primeiro dia, por exemplo, encontramos documentos que registravam a
suspensão daqueles serviços de manutenção da estrutura urbana do
Distrito Federal. Todas as empresas de manutenção estavam sem contratos
porque foram formalmente suspensos.
- Como assim?
- Foi um susto, sem dúvida! Não dava para entender porque aquilo estava
acontecendo... As empresas formalmente afastadas dos contratos, com a
desmobilização de suas estruturas, demitindo funcionários, desligando
os equipamentos, desmontando a manutenção, ou seja, aquele foi um ponto
de partida, um momento de apontar para uma direção de retomada, muito
difícil.Existiam situações absurdas como, por exemplo, a de obras que
faltavam apenas 10% ou 20% para serem concluídas, mas que estavam com os
contratos vencidos porque não fizeram um simples aditivo de prazo.
Tivemos que trilhar todo o caminho novamente: reconstruir um projeto,
uma licitação, contratação e,finalmente, iniciar uma obra. Perdemos, no
mínimo, seis meses só para sanear todos os fatos com o TCDF.
- Que providências foram tomadas? Isso implicou em que tipo de prejuízo?
- Tivemos que refazer licitações, atualizando preços e pagando nova
implantação de canteiros de obras. Perdemos tempo e isso gera prejuízos
para a população. No caso da EPTG, por exemplo, a cobrança da imprensa e
dos usuários foi muito grande. Tínhamos que concluir uma obra, que não
tinha sido totalmente executada, mas tinha sido entregue pelo governo
anterior. Quatro licitações – grama, sinalização, drenagem e defensas
metálicas – estavam paralisadas por determinação do Tribunal de Contas
do DF. E são obras importantes, porque a grama garante a manutenção dos
taludes e impede que a lama desça para a pista. Sinalizações verticais e
horizontais são importantes para a segurança, assim com as defensas. E
a drenagem garante a preservação da pista e evita alagamentos. No caso
da grama, por exemplo, os jornais noticiaram, na época, que o governo
anterior estava fazendo o plantio sem ter licitado a obra. Em todas as
quatro, existiam questionamentos sobre a licitação. Diante dessa
situação, tivemos que trilhar todo o caminho novamente: reconstruir um
projeto, uma licitação, contratação e, finalmente, iniciar uma obra.
Perdemos, no mínimo, seis meses só para sanear todos os fatos com o
TCDF.
- Diante desses obstáculos, como o povo reagiu?
- Na minha concepção, cada momento do governo teve a sua angústia, com
as dificuldades que tivemos de superar em 2011, que foi um ponto de
partida. Eu tenho certeza que 2012 será a própria resposta para
confirmar um balanço de trabalho daqui a um ano.
- A Copa do Mundo é uma das joias do governo?
Não precisa fazer pirotecnia mágica, embora eu não goste dessa palavra,
porque não se trata de ‘achismo’, até porque, como engenheiro por
formação, gosto de tudo preciso, efetivo e entendido. Na minha
concepção, deve prevalecer sempre a clareza em algumas linhas principais
de governo.
- Por exemplo.
- É inquestionável o que está se fazendo na saúde, mas mesmo assim
surgem críticas. Fechamos o ano passado com 85 leitos a mais, com
farmácias abastecidas e, mesmo assim, falam, “ah, mas tem tido
problema”. Pode ser que falte um item ou outro, mas o desabastecimento
geral como era antigamente... Da mesma forma o transporte público, que é
outra vertente - saúde e transporte público.
- Afinal, a Câmara Distrital é um bem ou um mal para o Distrito Federal?
- Para começar, irei registrar que, pela primeira vez na história do
DF, o governador e o vice-governador começaram a sua vida pública em
Brasília, iniciando-se na política como deputados distritais. O
governador Agnelo Queiroz e eu começamos como deputados, na Câmara
Distrital, e agora eu sou seu vice. A nossa origem política, sem dúvida
nenhuma, foi na Câmara Distrital.
- Mas foi rejeitada no começo. E agora como está o Legislativo diante da população?
- A Câmara Legislativa ainda provoca uma surpresa na população porque,
na origem de Brasília, era comandada por algumas pessoas nomeadas pelo
poder central. Falava-se em poder aqui, e se estranhava a chegada ao
poder de alguma pessoa que começou o trabalho em alguma cidade-satélite,
como, por exemplo, o agora governador Agnelo, no Gama, como outros
deputados, que são oriundos das cidades-satélites. Acho, sem dúvida
nenhuma, que se deve saudar a existência da Câmara.
- O que deve melhorar no Legislativo?
- Também no Executivo, não só a Câmara deve melhorar, até pelos anos de
Brasília. Enquanto as outras cidades têm tradição política de muitas
dezenas de anos, centenas, os brasilienses têm uma cultura política de
20 anos no máximo. É claro, lógico, que terá de amadurecer, cultivando,
aprimorando esses fatos todos. O que não se deve é negar o exercício
dessa democracia, e tenho a certeza que, em nenhuma hipótese, não
gostaríamos de voltar ao passado de Brasília.
Não faz muito tempo, a imagem de Brasília era de uma ilha da
fantasia, uma cidade de servidores públicos, mas o item ‘corrupção’ é o
que mais pesa. O que fazer para acabar com essa versão de que Brasília
é uma cidade corrupta?
- A primeira coisa que eu insisto, é que nós, moradores de Brasília,
temos a obrigação de repreender esse estigma que querem construir em
torno da capital da República. Até porque nós sabemos que aqui existe a
Brasília da realidade.Nós que vivemos aqui, na nossa Brasília, somos
pais de família, mães de família, empresários, trabalhadores que
lutaram muito, deram o melhor de suas vidas para construir essa cidade.
Eu nem considero o fato de ser a capital administrativa do país,
porque se fosse isso o Rio de Janeiro estaria atendendo até hoje. Mas,
eu vejo Brasília como a cidade que proporciona todo o desenvolvimento
do centro do país.
- Qual é o potencial de Brasília, além de ser a capital do país?
- Essa nova fronteira de desenvolvimento do Centro-Oeste, esse novo
momento da agricultura do país, ajudado pela Embrapa, tudo isso ajudou
esse momento propício que nós podemos festejar. Portanto, eu entendo
que, nós de Brasília, temos essa consciência de que vivemos a realidade.
Agora, Brasília teve a infelicidade de ter essas dificuldades
políticas. Dificuldades que eu acho que, em outros momentos, podem ter
existido em outras partes do país, até em função da própria evolução do
sistema de comunicação, do sistema de informação, etc.
- Brasília até parece ser estigmatizada em ser a capital...
- Hoje é feito de forma extremamente documentada, noticiada, divulgada,
e acaba refletindo no país todo. Mas eu acho que as dificuldades que
nós temos em Brasília, têm em qualquer unidade da federação. Brasília
ecoa mais o noticiário, ecoa mais o que acontece e também é o centro da
atenção do país todo por sediar aqui todo o segmento político e todos
os poderes políticos. Mas eu tenho convicção de que Brasília não fica a
dever a nenhuma unidade da federação e, aqui, existe uma Brasília
muito real, que nós vemos há muitos anos e não só por estarmos bem em
nosso lugar de origem, nós viemos apostando no momento do país e no
momento até de nossas vidas.
- Como o senhor vê a vocação industrial da capital da República?
- Eu entendo que essa vocação industrial tem sido de forma até bem
acertada. É simples ver que nessas áreas de incentivo de desenvolvimento
econômico, desenvolvimento das indústrias, nós não estamos optando por
indústrias que não sejam corretas do ponto de vista do aspecto
ambiental. Nós estamos trazendo para Brasília diversas indústrias
modernas, limpas. Estamos sediando, aqui em Brasília, do ponto de vista
de desenvolvimento econômico, algumas séries de empresas, como o caso
de parques de informática, principalmente na parte de software. Somos
aqui a origem de várias grandes empresas de software do Brasil.
Portanto, eu acho que estamos fazendo um tratamento dessa área de forma
muito interessante, conseguindo, de certa forma, não mérito desse
governo, mas mérito de sequência de ações ao longo da história. E
afirmo o seguinte: a única coisa que lamento é que a cidade talvez
pudesse se desenvolver muito mais se a gente explorasse um pouco mais a
indústria do turismo.
- De que maneira?
- Por exemplo, se você pegar Washington, você não consegue caminhar uma
quadra sem cruzar com uma excursão de algum lugar dos Estados Unidos,
fazendo turismo cívico. E aqui em Brasília, nós poderíamos ser esse
grande centro do turismo cívico do nosso país, por ser a capital de
todos os brasileiros, por sediar aqui um verdadeiro museu a céu aberto,
que é a arquitetura da capital do Brasil, desenvolver um pouco mais de
turismo de eventos, apesar de a gente estar começando a dar
demonstração de que isso a gente tem acertado. Basta olhar a agenda de
reserva do centro de convenção e os projetos para a ampliação do centro
de convenção e a possibilidade de outros centros particulares,
portanto, eu acho que esse fato deveria ter um pouquinho mais de
atenção, o turismo cívico, turismo de evento... Mas, essa eu acho que é
uma indústria fantástica, cada conversão que é feita aqui, você move
uma cadeia de cinquenta e quatro, cinquenta e cinco, cinquenta e oito
atividades diferentes.
- Com o ano começando, haverá ou não a dança de cadeiras no Palácio do Buriti e nas Secretarias?
- Essa é a única conversa que eu não poderia ser a melhor fonte, até
porque falei do cuidado na condição de vice e do respeito, da harmonia
que tem nessa convivência com o governador Agnelo Queiroz. Seria
extremamente descortês e indelicado, até porque, em alguns atos do
governo, sempre defendi, sempre insisti muito com o governador Agnelo
que tem ações e funções de Estado. Essas nunca poderiam ser discutidas
em termos de uma construção de um entendimento político ou qualquer
coisa assim. Construções que são de Estado, como a segurança, como a
parte da Fazenda, como a parte da Saúde, etc...essas eu acho que não
podem ser frutos ou formas de construir entendimentos políticos. Eu
seria indelicado, seria descortês.
- Um ano depois, no Palácio do Buriti, uma nova administração, o que mudou?
-Não existia uma obra em execução. As farmácias dos hospitais estavam
simplesmente desabastecidas, chegando ao ponto de se registrar o maior
número de ações na Justiça contra o governo para assegurar o atendimento
médico. O transporte público passava pelo pior momento da sua
história. Hoje, não na velocidade que talvez a gente gostasse, também
não na velocidade em que a sociedade gostaria que fosse, mas nós
podemos fechar o ano em superávit, uma performance que, nos últimos
quatro, cinco, oito anos, não tínhamos conseguido na história do
Distrito Federal. Conseguimos limpar o nome do DF, recuperar todas as
inadimplências que tinham durante o outro ano...
- Por exemplo.
- Mais de 70 registros no Cadin, com o governo inadimplente, que passou
a ser limpo e poder voltar a operar. Podemos ver a cidade com a grama
roçada, as árvores podadas, com a operação tapa-buraco, o lixo
recolhido, todas as obras retomadas, exceto sete ou oito. A gente agora
pode comemorar, com a realização dos encabeçamentos da EPIA e todos
aqueles estrangulamentos da EPIA, que foram realizados na nossa gestão,
neste governo, abertos ao trânsito sem qualquer tipo de festa. A EF5,
aquele entroncamento com a Avenida das Nações, na L4 Sul, um belo
acabamento, iluminada, com grama, com defensa, com tudo. A retomada do
viaduto do Núcleo Bandeirantes, o início da ponte em Vicente Pires, um
grande número de obras, mas, algumas já prontas para serem entregues,
como vilas olímpicas e restaurantes comunitários.
- Engenheiro de formação, como o senhor optou pela política, valeu a pena?
- Hoje, nós somos a sexta economia do mundo, uma coisa que a gente não
poderia imaginar. Aí você me diz “puxa vida, mas nós temos
desigualdades sociais absurdas, uma distância muito grande das
condições de vida, se comparadas a um país já consolidado como a
Inglaterra, mas eu digo o seguinte: com essa situação que nós estamos,
nós estamos conquistando uma condição de poder sentir indignação sobre
determinadas situações, ou seja, poder reagir em determinadas condições
que antes a gente nem poderia sentir-se indignado. Eu tenho um
entusiasmo muito grande com esse momento propício, com esse momento
mágico vivido pelo país. Também tenho uma alegria muito grande de estar
vivendo esse momento, e tenho certeza de que foi equacionado o
problema da inflação, mas não foi um decreto, não foi uma fórmula
matemática, um pacto político