Economia vai de vento em popa

Com a quinta posição no ranking das economias com melhor taxa de crescimento no Brasil, o Distrito Federal passa longe das crises. Expectativa de representantes de diversos setores e de economistas é de que em 2012 tudo continue fluindo bem

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Há anos enlaçado à economia da região Sudeste, o Centro-Oeste cursa agora uma nova trajetória no seu desenvolvimento, na qual é priorizada uma expansão descentralizada. A avaliação foi feita recentemente pelo presidente do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann. Hoje, segundo informou, a localidade é a 4ª macrorregião do país. Esta colocação melhora quando é levada em consideração a velocidade do avanço: a região passa a posicionar o 2º lugar, ficando atrás apenas do Norte. “Se o Brasil cresceu cerca de 20%, de 2002 para cá, o Centro-Oeste cresceu 36%”, compara Marcio.

Neste quadro, Brasília teve uma relevante contribuição, principalmente, nos setores de comércio e serviços. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o Produto Interno Bruto (PIB) do DF é constituído em mais de 90% de seu total pelo setor terciário. Pesquisa divulgada no final do ano passado pela Codeplan aponta que o DF ocupa a quinta posição no ranking das economias com melhor taxa de crescimento no Brasil. E, de fato, um dos grandes responsáveis é o setor de serviços, que emprega boa parte da população e pouco sofreu nos últimos anos. A construção civil é outro setor que impulsiona a economia local.
Além do setor de serviços,  a construção civil tem sido um dos maiores responsáveis pelo bom desempenho da economia nos últimos anos, o que deve continuar em 2012Foto: DivulgaçãoAlém do setor de serviços, a construção civil tem sido um dos maiores responsáveis pelo bom desempenho da economia nos últimos anos, o que deve continuar em 2012

Considerando este estimável desempenho, o economista Julio Miragaia espera que no ano que se inicia, o Distrito Federal avance ainda mais. Ele acredita que, se o Brasil crescer, por exemplo, cerca de 4%, o DF alcançará a média de 5%, sempre acima da média nacional. “A economia local não segue as mesmas tendências do resto do país. Para traçá-la, é necessário que sejam compreendidas as peculiaridades desta”, afirma o especialista.

Um exemplo é no setor industrial. Enquanto na média do Brasil ele tem um PIB em torno de 22%, em Brasília este segmento representa 3%, praticamente inexistente. Porém, no setor da administração pública, as outras regiões têm um peso de 15% e no DF, este tem um peso de mais de 50%. “Aqui, quando o setor de serviços públicos tem boa representatividade, significa que o ano será de alta no crescimento econômico”, avalia Miragaia.

Conforme observa o economista, muitos acreditam que este perfil voltado para o serviço público é desvantajoso. Entretanto, Miragaia explica que muito do crescimento que o Distrito Federal teve, por exemplo, em 2009 se deve a esta estrutura. “Em 2009, a economia do Brasil teve uma baixa de 0,3%. Aqui, ela cresceu 4%. Isto porque o maior problema foi na indústria e como não há no DF, não impactou a economia local”, explica.

Perspectiva do setor público
Julio Miragaia estima que a perspectiva do setor público para 2012 será similar a de 2011, o qual teve um primeiro semestre com redução nas contratações, e uma segunda etapa com aceleração e mais crescimento. “O governo local, ao assumir no ano passado, pegou uma situação complicada, no qual foi priorizada a arrumação da Casa. Agora, a tendência, seguindo o orçamento já elaborado pelos governantes, é aplicar em investimentos”, aposta Miragaia.

No que depender do governador Agnelo Queiroz, as expectativas de Miragaia podem se concretizar. Caso o petista cumpra com o que vem dizendo em entrevistas, a cidade está sendo preparada para um “grande salto econômico”. Agnelo diz que pretende aproveitar a boa onda pela qual o Brasil está passando. Para ele, nem mesmo a crise externa pode abalar a economia do país que tornou-se a sexta do mundo.

Serviços, a alavanca da economia

Responsável por 93% do PIB do DF e empregando 51% da população ocupada na cidade, o setor de serviços é a menina dos olhos da economia local. Por isso, a preocupação do GDF para 2012 passa por este setor. De acordo com o secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, Expedito Veloso, há anos o GDF lutava para ampliar os recursos destinados a este segmento. E, no final de 2011, o Conselho Deliberativo de Desenvolvimento do Centro-Oeste aprovou a demanda de repactuar a distribuição dos recursos destinados para os segmentos de comércio e serviços. Isso permitirá que sejam disponibilizados pelos agentes financeiros, em 2012, R$ 61,3 milhões para ambos os segmentos. O volume de fundos passará de R$ 194,4 milhões para R$ 255,8 milhões.

O presidente da Federação do Comércio do DF (Fecomércio-DF), Adelmir Santana, destaca que como no DF a indústria e a agricultura não são desenvolvidas, as atividades de comércio e serviço são muito importantes.“A renda per capita elevada dos moradores de Brasília desperta o interesse de grandes marcas e empresas”, afirma. Ele observa, ainda, que é preciso desenvolver o Entorno para que Brasília continue crescendo. Para 2012, as expectativas da Fecomércio são boas. Como ocorreu nos últimos anos, a previsão é de que ele cresça em um ritmo maior do que a média nacional.  
Mesmo com este bom desempenho, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico traçou como um grande desafio em 2012 aumentar o PIB da indústria local, para que, segundo o secretário adjunto Expedito Veloso, diminua a dependência no setor de serviços.

Construção civil puxa a indústria
Antônio Rocha: com a retomada das obras no DF, desempenho do setor vai melhorarFoto: Mary Leal/CedocAntônio Rocha: com a retomada das obras no DF, desempenho do setor vai melhorar
Nos últimos anos, Brasília tem assistido a um verdadeiro boom imobiliário. E a promessa é de que ele continue em 2012 e pelos próximos quatro anos, segundo o economista Ronalde Lins. “A indústria da construção movimenta R$ 3,5 bilhões anualmente só no DF. Em 2009, o setor representou 13% do PIB do DF. Para este ano, está estimado uma alta de 5,2%”, observa.

A avaliação do presidente do Sindicato da Construção Civil do DF (Sinduscon), Júlio Cesar Peres também é positiva. Isto porque, no final do ano passado, o GDF anunciou que vai investir R$ 778,1 milhões no setor. Isto simboliza a retomada do crescimento, estagnado depois da crise política provocada por denúncias de corrupção na administração pública. “Entendemos que 2011 foi um ano importante para o governo se organizar. Mas o retorno das obras públicas deve ser prioridade a partir de agora. Os desafios que temos pela frente são enormes e Brasília precisa estar preparada para receber, nos próximos anos, de forma profissional, os megaeventos esportivos internacionais que se aproximam”, avalia Júlio Cesar Peres.

Ao todo, foram assinadas 61 ordens de serviço que autorizaram o início imediato de 149 obras na capital, um investimento de R$ 193,6 milhões.  “Depois de um período difícil, acreditamos que o ano de 2012 será bastante produtivo para o setor da construção civil, que já emprega 72 mil trabalhadores no DF e ocupa o segundo lugar no mercado imobiliário brasileiro”, completou. 
Para o presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra-DF), Antônio Rocha, o GDF é o grande cliente do DF. “Agora que o governo está estruturado, as obras vão começar a sair mais e teremos uma melhora no desempenho do setor ”, diz.

Mas outras áreas do setor industrial também prometem crescimento. No setor de alimentação, a Fibra espera resultados semelhantes aos de 2011. “As exportações do DF cresceram 15%, atingiram a marca de US$ 162,44 milhões (cerca de R$ 297 milhões). Vamos crescer também este ano”,  espera o presidente. “O setor também depende muito da renda das pessoas. Como historicamente a renda do DF é acima da média nacional, temos bons números. Outro fator que vai alavancar a receita é o aumento do poder aquisitivo da classe C.”

Outra esperança para o crescimento da economia é a Cidade Digital. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal já começaram a construir no local. Para Rocha,  isso deve fazer a Terracap acelerar o processo legal e atrair investidores e empresas para o local.

Varejo e atacado com boas expectativas
Fábio de Carvalho: problemas fiscais não afetam otimismoFoto: DivulgaçãoFábio de Carvalho: problemas fiscais não afetam otimismo
O DF registrou, no fim do ano passado, a menor taxa de desemprego desde 1992. Em novembro, o valor da taxa foi de 11,9% do desemprego total no DF. De todos os pontos positivos que este dado traz, um deles é para o varejo: mais gente trabalhando significa mais renda e, consequentemente, mais gente consumindo. Para o presidente do Sindivarejista do DF,  Antônio Augusto de Moraes, mais um dado faz com que o setor entre 2012 otimista: a continuidade da facilidade de vendas a crédito.
“Temos praticamente só lados positivos para o setor. O poder de compra está elevado, há uma expectativa de redução da taxa de juros e a ascensão das classes C e D, que passam a ter mais poder de compra”, observa. O presidente do Sindivarejista acredita que o ritmo de crescimento no setor será o mesmo de 2011: um registro de 5,8% em todo o ano.
Outro setor que está otimista para 2012, apesar de alguns problemas que precisa enfrentar, é o atacadista. Composto por, pelo menos, 600 empresas, o setor é responsável por 22% da arrecadação de ICMS no DF. Segundo o presidente do Sindiatacadista-DF, Fábio de Carvalho, os atacadistas daqui atuam em praticamente todos os segmentos e um dos que mais vem crescendo é o de materiais de construção.

Apesar do otimismo, Fábio de Carvalho diz que o setor atacadista tem uma grande questão a ser resolvida para que Brasília não perca um importante aliado do desenvolvimento econômico local: incentivos fiscais. Segundo o presidente do Sindiatacadista, Brasília vem perdendo grandes empresas por falta de incentivos. O vizinho Goiás tem se tornado, portanto, mais atrativo ao investidor, por diversas questões, entre elas, o valor do terreno mais barato e menos impostos a pagar. “A gente tem conversado com o governo, que apesar de mostrar boa vontade, não parece querer colocar o tema como prioridade”, lamenta Fábio.

Nem mesmo a aprovação do Pró-atacadista, no final do ano passado, na Câmara Legislativa, animou o setor. Segundo Fábio de Carvalho, a competitividade com outros estados, em especial, o vizinho Goiás, continua injusta. “Enquanto Goiás paga uma média de 3% de imposto, nós vamos pagar 7%”, lamenta.

Mão de obra
Mesmo com o otimismo de todos os setores da economia, um item ainda preocupa: a falta de mão de obra qualificada, o que pode tornar-se empecilho para o crescimento da economia. Pensando nisso, a Fibra já preparou uma medida para 2012: inaugurar uma unidade do Sesi em Taguatinga onde serão oferecidos cursos de formação de mão de obra para tentar suprir um pouco da necessidade das indústrias.

Quem também está preocupado com qualificação é o Sebrae. Na opinião do presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-DF, José Sobrinho Barros, o Distrito Federal tem uma gama grande de empreendimentos, mas muitos empreendedores não têm conhecimento para desenvolver o negócio. “O mercado quer e precisa estar preparado para os grandes eventos que estão por vir”, afirma. Diante desse cenário, a meta do Sebrae para 2012 é capacitar: formalizar 4.500 empreendedores individuais e realizar 1.800 atendimentos são alguns dos objetivos deste ano.

Redação Jornal da Comunidade

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