O diretor-geral da  Polícia Civil do 
Distrito Federal, Onofre de Moraes, acredita que a  acusação de que 
teria oferecido propina ao jornalista Edson Sombra é  retaliação a 
investigações conduzidas pela corporação. Nas últimas  semanas, a 
Delegacia de Crimes contra a Ordem Tributária (DOT) encontrou  indícios 
de irregularidades contra a empresa da mulher do jornalista,  Wânia 
Luzia de Souza. O delator da Caixa de Pandora, o delegado  aposentado 
Durval Barbosa, afirmou em depoimento, no último dia 24, à  Polícia 
Federal, que o diretor teria oferecido R$ 150 mil a Edson Sombra  como 
forma de silenciar o blogueiro, que diz ter gravado a suposta  oferta. 
Onofre nega a acusação.
A denúncia foi relatada pelo  delator à revista Veja, mas Onofre de 
Moraes desafia os autores a  mostrarem o suposto vídeo. “Se tiverem 
alguma coisa contra mim, que  mostrem. Eu não me importo. Enquanto eu 
for diretor da Polícia, não vou  me curvar nem para Edson Sombra, nem 
para Durval Barbosa”, disse o  policial ao Correio (leia entrevista ao 
lado).
No fim do ano  passado, a DOT iniciou a Operação Voucher, com o objetivo
 de apurar  desvios fiscais de empresas de viagens e de publicidade do 
Distrito  Federal. Entre as suspeitas, os investigadores identificaram a
 Babytour  Agência de Viagens, Turismo e Representação Ltda., de Wânia e
 Antônio  Ricardo de Pádua Aguiar. Apesar de estar com a inscrição 
cancelada desde  2007, o escritório mantinha em funcionamento a página 
na internet com  ofertas de pacotes turísticos, além de ter 
movimentações financeiras.
Segundo  o chefe da DOT, o delegado André Varella, Aguiar seria o 
jardineiro do  jornalista. Para atestar o suposto funcionamento da 
agência, dois  agentes foram no início deste mês ao endereço constante 
no registro da  empresa, na 716 Norte, onde Sombra reside com a família.
 Câmeras do  circuito de segurança flagraram a presença dos policiais. 
Intrigado, o  jornalista publicou em seu blog imagens dos dois 
fotografando o terreno.  “Chegamos ao nome de Edmilson Edson dos Santos,
 mas não sabíamos que  era o Sombra, até vermos a notícia na internet. 
Ele fez chacota dos  policiais e os colocou sob risco”, diz Varella.
Segundo Moraes,  Sombra o procurou no dia 19, na Diretoria-Geral da 
PCDF, afirmou estar  sendo perseguido e pediu o fim das investigações. 
No entanto, o  jornalista teve de voltar, no dia 23, para prestar 
depoimento na DOT. O  delegado André Varella afirma ter identificado o 
envolvimento do  blogueiro com empresas suspeitas, inclusive, de lavagem
 de dinheiro. Um  dos indícios é a compra de um automóvel blindado, em 
nome da agência de  Wânia, da empresa Máxima Assessoria, dos sócios 
Cristiano Silva de Souza  e Hermógenes Alves dos Reis. O primeiro foi 
acusado de atentado  violento ao pudor enquanto o outro cumpre regime 
semiaberto por roubo.  “Tudo indica que essa era uma empresa laranja”, 
afirma Varella.
Além  disso, os policiais encontraram mais de 70 ações fiscais, no 
Tribunal  de Justiça de Pernambuco, contra empresas ligadas a Sombra. 
Além de ter  contrariado o amigo jornalista, Onofre de Moraes acredita 
ter irritado  Durval Barbosa, ao nomear para a chefia da Academia de 
Polícia a chefe  da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente 
(DPCA), Sandra Gomes  Melo, responsável pela investigação da acusação de
 pedofilia imputada  ao delator.
"Eles terão de provar tudo o que dizem"
Durval  afirmou que o senhor teria oferecido R$ 150 mil ao 
Sombra para ele  parar de “bater” na atual gestão. O que o senhor tem a 
dizer sobre isso?
Para  quem desviou R$ 200 milhões de recursos… Ele (Sombra) foi à DOT no
 dia  23 para prestar depoimento e, no dia seguinte, saiu a notícia de 
Durval  Barbosa na Polícia Federal. Eles trabalham juntos.
Teria sido retaliação às investigações?
É  o que tudo indica. (O Sombra) era meu amigo há 30 anos e de repente 
se  voltou contra mim, acredito eu, porque ninguém tinha coragem de  
investigá-lo. Meus delegados aqui têm liberdade para investigar quem  
quer que seja. Não quero saber quem é e nem vou impedir nenhuma  
investigação. O Durval também ficou irritado porque a delegada da DPCA  
que apurou aquele inquérito da pedofilia foi lotada na direção da  
academia. Eles eram acostumados a mandar na polícia, direcionar essas  
investigações, mas agora acabou.
Quando foi a última vez que vocês tiveram algum tipo de contato?
Foi  aqui na minha sala, no dia 19 de janeiro, quando o Sombra e a 
esposa  dele me procuraram. Ele disse que estava sofrendo perseguição. 
Olha aí a  perseguição (diz apontando para o material da investigação 
espalhado  sobre a mesa).
Existiu algum outro encontro?
Eu  cansei de frequentar a casa dele. Fui lá diversas vezes, como todas 
as  pessoas. Acredito que eu era o último amigo dele, porque ele não tem
  mais amigos. A vida deles é filmar, gravar e acabar com a vida das  
pessoas.
Como avalia essa exposição?
Ele acha  que fui eu quem mandou investigá-lo, mas eu não mandei nada. 
Delegado  nenhum vai chegar para mim pra dizer que está investigando 
fulano.  Quando ele veio aqui me pedir, veio em um tom para interromper 
as  investigações. Ele veio em um sentido de coagir. Tudo que ele tiver,
 que  mostre agora. Eu não tenho medo.
O senhor o desafia a mostrar o suposto vídeo no qual apareceria oferecendo dinheiro a ele?
Ele  pode mostrar todos. Aliás, ele e Durval têm de mostrar todos os 
vídeos  do DF. A cidade não pode ficar a mercê dos dois e não suporta 
mais essa  onda de chantagens. Eles querem comandar todos os poderes.
A  atual cúpula da Polícia Civil trabalhou junta em gestões 
passadas,  inclusive com a participação de Durval e a proximidade do 
Sombra, mas  hoje está rachada. A que se deve?
É porque eles não aceitam  ser investigados. Gostam de investigar os 
outros. Eu sempre fui alheio a  isso. Eu não posso, mesmo com a amizade 
que eu teria com ele, dizer  para um delegado interromper uma 
investigação, porque eu não faço isso.  Sempre foi a minha postura. 
Nunca pedi para ninguém ajudar ou prejudicar  outra pessoa. Tenho 34 
anos de profissão e sempre agi dessa maneira.  Quem deve paga.
Mas o Durval está no programa de delação  premiada e, se mentir,
 pode perder o benefício. O que o senhor acha que o  levou a fazer essas
 acusações?
Acho que foi a raiva disso  tudo. Ele queria que eu exonerasse a 
delegada da academia de polícia. Aí  o Sombra, na minha ideia, usou o 
Durval.
O Durval teria sido enganado pelo Sombra?
Ele  depôs a serviço dele. É um absurdo a pessoa estar na delação 
premiada,  gravando fita e chantageando as pessoas. Enquanto eu estiver 
aqui,  nenhum dos dois intimidará mais a Polícia Civil. E mostrem o que 
tem  para mostrar. Brasília tem de ver tudo o que eles tem.
O senhor vai tomar alguma providência?
Vou entrar na Justiça contra todos. Estou preparando as medidas judiciais. Eles vão ter de provar tudo o que eles estão dizendo.
Esta investigação prossegue?
Isso  aqui é a ponta do iceberg. Muitas pessoas do relacionamento dele  
(Sombra) vão aparecer. Os agentes financiadores vão aparecer nesta  
investigação. O que a gente vislumbra numa investigação desse porte é  
que muitas pessoas influentes do Distrito Federal aparecerão. Mas ela  
prosseguirá no ritmo normal. Eu não vou apressá-la, porque não vou levar
  para o lado pessoal.
A polícia continua envolvida na política brasiliense?
A  polícia tinha influência maléfica dessas pessoas. Eles quem escolhiam
  os delegados-chaves das delegacias. Acabou. É o fim da fonte de  
informação. Por conta disso, contrariamos muitos interesses. Agora,  
dossiê não existe mais na Polícia Civil. Eu te garanto que essa  
investigação, antes, podia ser motivo de dossiê, mas, agora, não. Doa a 
 quem doer. Se eles tiverem alguma coisa contra mim, eles que mostrem. 
Eu  não me importo. Enquanto eu for diretor da Polícia, eu não vou me  
curvar nem para Edson Sombra, nem para Durval Barbosa. Já fizeram muito 
 mal para muitas pessoas. Tem de dar um basta nisso.